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terça-feira, 2 de junho de 2009

Remorso

"Ter remorsos, portanto, é dilacerar-se, tortura a que nos submetemos quando não conseguimos fechar nossas contas com o passado..." (por Alexandre Pelegi) “Sinto o que desperdicei na juventude; choro, neste começo de velhice, mártir da hipocrisia ou da virtude, os beijos que não tive por tolice, por timidez o que sofrer não pude, e por pudor os versos que não disse!” É o poeta Olavo Bilac versejando o sentimento do remorso. Uma dor que revela nossa impotência diante do que poderia ter sido e acabou não sendo, algo que dependia fortemente de nossa ação no passado e que hoje nos coloca como os grandes culpados pelo desenlace infeliz. Não ter feito, ou ter feito alguma coisa de forma diversa, causa em nós esse trágico desconforto a que chamamos remorso. Como toda palavra, esta também tem sua raiz. Brotou do latim, do verbo “remordere”, “tornar a morder”, o que nos impele a compreendê-la como um ato doloroso em essência. Ter remorsos, portanto, é dilacerar-se, tortura a que nos submetemos quando não conseguimos fechar nossas contas com o passado. Quando o vivido e o lembrado não se entendem, o coração se põe a morder, a ferir, a atormentar nossas lembranças – por que não fiz de forma diferente? Por que disse tal coisa, quando o silêncio era a melhor postura? Balzac já impunha uma necessária diferença entre remorso e arrependimento, outra palavra que sempre nos assoma à mente quando nos debruçamos sobre os erros cometidos: “o remorso”, dizia ele, “é uma impotência. Ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo." Eu prefiro apartar estas duas sensações: sentir remorso, independente do pecado cometido, não implica necessariamente num ato de contrição. Muitas vezes sentimos e pronto, e o próprio sentir já nos serve de remédio e alívio para as feridas da alma. No prefácio do livro “Admirável Mundo Novo”, Aldous Huxley escreveu: Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.” O perigo do remorso está justamente em buscar a cura instantânea do arrependimento, quando muitas vezes arrepender-se não guarda qualquer relação com o que somos e o que queremos vir a ser. Ao invés de nos tornarmos melhores, acabaremos por retornar ao rebanho, tangidos pela vara dos bons costumes...

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