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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Por que faço Teatro? (E uma pequena Homenagem)

Primeiramente hj é um dia muito especial para alguém que já fez parte de 90% da minha vida, hj um pouco distantes, mas o q importa é todas as boas lembranças que vão sempre permanecer...
Cynno.... Feliz Aniversário!!!
Agora o assunto de fato, um texto encaminhado à mim, pelo meu amigo e ator, David Gomes: O teatro sim é uma arte morta, se na sua pratica não é revestido de fogo (paixão) o que torna o momento eterno e esta ligação com nosso espírito, como diz Tolousse Lautrec a Arte é a religião do espírito, o momento que o artista se descobre e descobre si aos outros, é mágico, como pede Artaud, vamos nos tornar labaredas vivas, e no fogo que se produz o vácuo com a combustão, o nada se faz no agui e agora, tornando eterno este momento, o artigo abaixo é do Arnaldo Bloch de hoje do O Globo, por favor troquem a palavra livros por peças, eu faço teatro pra me descobrir e me perder, e você ? Por quem (as peças ) os livros choram Beltrano aqui denominado “jornalista e escritor Obdúlio Fronkman” disse outro dia, numa palestra, que “escrevia para descobrir”. “Pois é — disse Obdúlio — tem gente que primeiro escreve e depois descobre, ao contrário do usual, que é descobrir e depois descrever. Quando a gente escreve para descobrir, percorre vários caminhos que não percorreria normalmente”. Então, na platéia, uma anciã perguntou: “Mas isso não torna as coisas mais demoradas e tortuosas?” “Sim. Em compensação, nas idas e vindas, tentativas e erros, ao mesmo tempo que descartamos quase tudo, topamos com uma teia de coisas preciosas, que jamais viriam à tona pelas vias tradicionais.” Obdúlio fez uma pausa. “E tem mais: muitos dos trechos e idéias que descartamos voltam mais tarde, amadurecidas, ou então, quando não voltam, deixam traços, nem que seja uma cadência, um ritmo, um estado de alma a vibrar nas entrelinhas.” Ele respirou fundo. “Mesmo assim, é possível que, no final, joguemos no lixo tudo e escrevamos, enfim, o tal do livro. E é bastante provável que ele fique muito melhor que tudo que escreveríamos se já tivéssemos um plano traçado.” Um sujeito usando sobretudo de lã fechado até o pescoço apesar de lá fora estar fazendo 25 graus e não haver ar-condicionado levantou-se, apontou para Obdúlio de maneira acusatória e disse, sem pedir licença: “Isso o senhor diz porque é um escritor da era dos computadores. Podendo deletar, mover, copiar, colar, descolar, arquivar e transferir os seus erros e acertos fica bem fácil posar de intuitivo. Queria ver se estivesse escrevendo num caderno com caneta-tinteiro, ou com esferográfica mesmo, ou com lápis, ou com sangue, ou à máquina, à luz de velas ou lampiões, num quartinho imundo no fundo de um beco nos subúrbios do Velho Mundo.” “Tem razão, não sei se suportaria. Ainda assim, muitos o fizeram”, respondeu Obdúlio Fronkman de bate-pronto. “Escreveram e reescreveram, encheram todos os espaços brancos além das linhas com anotações e emendas, levaram anos, décadas, só não levaram séculos por que não deu tempo, e então deixaram turbilhões inacabados, páginas agonizantes que viveram nas gavetas até que as traças acabassem com elas.” “O senhor então menospreza os que escrevem de primeira, aqueles cujas estruturas saem prontas e naturais?”, perguntou uma senhora magra com mais de dois metros, sem se levantar, pois o teto do auditório, rebaixado, não seria suficiente. “Não. Mas esses são raros, porém. E, a maioria, comprometida com a escrita instantânea, que nem sempre retrata instantes de brilho. Ou então são mestres que aprenderam justamente transpondo o breu.” “E a técnica? E os estudos de narrativa? E as teorias de texto, que produzem best-sellers com tanta certeza que aquele que os escreve, por vezes, é substituído por outro sem que nada mude?”, perguntou um notório editor de livros sem apresentar-se como tal, pois sabia que Obdúlio Fronkman, um distraído imperdoável, não o reconheceria. “Eu responderia com uma pergunta: até que ponto, até que nível de vergonha, vender é ético? Fernando Pessoa uma vez disse que os verdadeiros livros são os que nunca saem da gaveta. Certo, são radicalizações, mas responda o senhor: de que vale ter uma fórmula para dar à luz um livro morto?” “Como assim um livro morto, se ele é lido por centenas de milhares de pessoas?” “Um livro morto, sem alma. Natimorto. Cópia fria do que já foi descoberto. Morto porque não há um criador por trás: há, na melhor das hipóteses, um aviador de receitas literárias (às vezes as suas próprias receitas depois que perdem o frescor). Um copiador dos outros ou de si mesmo, um impressor disfarçado de escritor, com um editor risonho e modorrento por trás, não é mesmo, senhor... Y, não é assim que o senhor se chama?” Pego assim de surpresa — ele o reconhecera! — o senhor Y, editor de best-sellers, engoliu em seco e não retrucou, apenas aguardando que Obdúlio Fronkman arrematasse. “Os que escrevem para descobrir e parte dos que descobrem para escrever, e também os raros escritores instantâneos que valem a pena, preenchem com vidas as suas páginas. Com as suas próprias vidas, vividas ou imaginadas, mas que, vivas e atentas, percorrem as sinapses do criador na própria origem, remexem sua circulação, apertam seu peito e acionam todas as esferas do pensamento que os filósofos e a ciência ainda não conseguiram apreender, e por isso inundam o leitor com uma enxurrada de energia nova.” “Os livros, então, têm vida?”, indagou, com uma pompa calculada, o mediador. “Não. O senhor não entendeu. Têm vida os livros que choram. Que gritam. Que se desesperam. Os livros que falam e que riem, às turras, amargos, na cara do leitor.” “E por quem os livros choram?”, perguntou o mediador, achando que estava abafando. “Choram pelos livros que, natimortos, mataram os seus leitores.. Pelos clones inconscientes em que se converteram. Pelos escritos que não tremem nas prateleiras. Que não pedem proteção. Que não produzem arrepios quando se vai buscá-los. Sequer encaixam-se na linha do tempo esses escritos, são consumidos apenas, não mudam de sabor, se é que têm, não provocam acidez, não voltam à mente depois de devorados, não são nem absorvidos nem eliminados, perdem-se e se desfazem na suprema complexidade do organismo sem provocar qualquer reação, e não deixam marcas no corpo nem na alma.” Uma boa semana a todos